domingo, 14 de agosto de 2016

Quando nasci, estava chovendo...
Sempre tive certeza disso mesmo sem qualquer testemunha que comprovasse que eu estava certa...
Estranho!
Mais estranho ainda são os meus "instintos" e tudo o que sinto quando recebo a graça de todas as chuvas ao longo de 54 anos...
Um cheiro familiar, e ao mesmo tempo uma saudade estancada no peito, que abraça mornamente o barulho da chuva chegando... E que desperta um ser mais feliz dentro de mim...
Faz tempo que a chuva não vem...
E, cada nuvem no céu, enche meu coração de esperança. Esperança de vê-la chegando e molhando o pasto, as folhas das árvores, a terra vermelha da estrada de chão batido...
Vê-la removendo a poeira de tudo, fora e dentro de mim...
Sentir seu perfume exalando da terra molhada e agradecida de Deus...
Quando nasci, estava chovendo...
E ainda hoje, quando escuto seus pingos no telhado, pareço reviver o dia do parto prematuro.
Será que nasci no risco porque chovia?
Ou chovia porque quase não nasci naquele dia?
Nasci para pisar nas poças de água de chuva a caminho de casa vindo da escola.
Nasci para abrir a janela depois da chuva e sentir o cheiro do ar renovado.
Nasci para deixar a sombrinha na bolsa e sentir a chuva molhar o meu rosto e lavar a minha vida na terra.
Estava chovendo quando nasci de uma chuva de lágrimas de felicidade e esperança.